
Em uma praia na França, 1975
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Arnaldo Antunes
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Jorge Luis Borges
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Entrevista | Os intrépidos andarilhos e outras margens
Adriano | Pensei em diversos títulos. Nunca cheguei a um que me agradasse completamente. Mantive “Os intrépidos andarilhos” por ser o objeto de busca, pelo menos num plano inicial, do protagonista. “E outras margens” talvez fosse mais apropriado para um livro de contos, mas optei por manter pois remete às diversas possibilidades de leitura e vivências do personagem. O plural talvez seja uma fuga da individualização do protagonista, talvez. Como saber? Com certeza, Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens não é um livro de certezas.
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“Minha perspectiva é aquela do Romantismo, que absorve o gnosticismo – é não retornar ao passado, mas criar o futuro.” Claudio Willer
concedida a Adriano Lobão Aragão
em março de 2011
Poeta, ensaísta e tradutor, Claudio Willer nasceu em São Paulo, 1940. Sua obra apresenta forte vínculo com a criação literária desenvolvida pelo surrealismo e pela geração beat. Tradutor de Lautréamont e Ginsberg, dentre outros. Como crítico e ensaísta, colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Isto É, Leia, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Cult, Correio Braziliense, etc; e na imprensa alternativa: Versus, Singular e Plural e outros. Co-editor da revista eletrônica Agulha, também edita o blog http://claudiowiller.wordpress.com/. Doutor em Letras pela USP, com tese defendida em 2008 com o título “Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e Poesia Moderna”, lançada em livro pela editora Civilização Brasileira. A seguir, apresentamos significativo trecho de entrevista concedida pelo autor sobre o místico labirinto poético ao qual dedicou sua tese. A entrevista completa foi publicada na 9ª edição da revista eletrônica Desenredos (www.desenredos.com.br).
Claudio Willer – Acho que, quanto à ‘tradição literária’, interesse vem desde sempre. Com uns 20 anos de idade, despertou-se em mim uma vocação de poeta – certamente induzida por leituras e por amizades com outros poetas. Afinidade com surrealismo e simpatia pela geração beat vêm daquele tempo. Quanto ao gnosticismo, essa religião ao contrário, invertendo os grandes monoteísmos patriarcais, há tempos me despertava a curiosidade. E já havia visto autores serem associados ao gnosticismo, por exemplo Artaud por Susan Sontag. Recentemente, achei uma resenha minha de 1987, na Isto É, sobre a coletânea de textos em prosa de Hilda Hilst, Com os meus olhos de cão. Para minha surpresa (havia-me esquecido) desde então já associava Hilda Hilst ao gnosticismo. Lautréamont, também, ao escrever sobre ele em 1997 (no prefácio da edição Iluminuras da minha tradução), dizia que ele representava Deus como demiurgo gnóstico em Os cantos de Maldoror. Minha tese de doutorado, pretendia fazê-la sobre relação de poesia com ocultismo e esoterismo em geral. Quando percebi que o resultado seria de uma extensão inviável, concentrei-me em gnosticismo, que vale como capítulo inicial do esoterismo e ocultismo na tradição ocidental. Pelo resultado – a tese de doutorado e o livro – vejo que foi uma boa escolha.
Adriano – É notório o interesse por temas místicos, incluindo o gnosticismo, caracterizado pelo lançamento de diversos títulos a cada ano. Sabe-se também que bem poucos encaram esses temas com o devido rigor e lucidez que encontramos em Um Obscuro Encanto, por exemplo. Nesse contexto, como tem sido a recepção de seu livro?
Adriano – E a quem Um Obscuro Encanto deve satisfazer (ou melhor, encantar)?
Lançamento da coletânea O RIO
Oficina da Palavra | Teresina, PI
1º de dezembro de 2022
Gramática reflexiva
COCAL DOS ALVES
Adriano Lobão Aragão
nos campos onde pastam
bois e cabras persiste
o caminhar do tempo
ruminando o desdobrar
da existência
diante dos bancos alinhados
na praça da igreja
a sombra das árvores
abriga a permanência dos dias
a mansidão da tarde
espalhada pelo horizonte
desenhado entre serras
em que campeiam lembranças
semeadas na resistência das pedras
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Gramática Reflexiva | sexto ano
William Roberto Cereja e Carolina Dias Vianna
5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2019
poema: Cocal dos Alves, p.218
Noite de dezembro
Adriano Lobão Aragão
as cinco almas desta família
reunidas no silêncio da noite
celebram sua incômoda comunhão
no rascunho de sorrisos frios
repetidos nos gestos de comer e beber
no entanto é noite de dezembro
o avô morto há duas décadas
permanece jantando na mesa vazia
indiferente aos olhares das crianças
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publicado originalmente na revista Germina
Revista Brasileira
NÃO DEIXAMOS NOSSAS PEGADAS
Adriano Lobão Aragão
não deixamos nossas pegadas
no calçamento desta rua
repleta de pedras pontiagudas
deixamos o sangue de nossos pés
cortados no jogo de bola
onde o único ofício das chinelas
era servir de trave para o gol
contado em pés descalços
então a rua deixava em nós suas pegadas
demarcadas pela tintura do mercúrio-cromo
ou pela dor do mertiolate e da água oxigenada
também a bola recebia seus remendos
quando furada cortada ou rasgada
e outra bola mais antiga cedia um recorte
que seria colado com faca quente
não deixamos nossas pegadas
no calçamento desta rua
deixamos o sangue e outras feridas ao relento
esperando o tempo decidir esquecer ou emendar
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Revista Brasileira
Fase VIII, Ano VI, Nº 91
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2017.
Editor: Marco Lucchesi | ISSN 0103707-2
| poemas: Peito de Moça, p.232; Inhuma, p.232; Quixadá, p.233; Uruçuí, p.233; Cocal, p.233; Fortim, p.234; Ainda havia carambolos nos muros, p.235; O muro além do jardim demarcava, p.236; Não deixamos nossas pegadas, p.237; Assar castanha, p.238. | Download da edição completa