Oficina da Palavra | Teresina, PI
1º de dezembro de 2022
O rio
Prefácio da segunda edição de O rio, coletânea de poemas sobre o Parnaíba, organizada por Cineas Santos e Adriano Lobão Aragão [Teresina: Fundapi, 2022]
Com sua geografia sinuosa entre os estados do Piauí e do Maranhão, o rio Parnaíba demarca nossa condição de existência nestas paragens. Do âmbito econômico ao ecológico, do cotidiano ribeirinho ao imaginário artístico-cultural, o fluir de suas águas nos acompanha, teimando em resistir ao descaso e às constantes agressões.
No ano de 1980, Cineas Santos organizou, juntamente com Paulo Machado, uma antologia poética intitulada O rio e publicada pelas Edições Corisco, tendo como tema o rio Parnaíba. Além de seus próprios textos, o livro reunia poemas de Climério Ferreira, Vidal de Freitas, Da Costa e Silva, Martins Vieira, Nelson Nunes, Álvaro Pacheco, Kenard Kruel, Clóvis Moura, Raimundo Alves de Lima, Olympio Vaz, William Melo Soares, H. Dobal, Salgado Maranhão, Rubervam Du Nascimento, Herculano Moraes, Francisco Miguel de Moura, Menezes de Moraes. Quando Cineas me convidou para colaborar numa nova edição de O rio, desde o início sabíamos que construiríamos uma obra seguindo as mesmas feições da anterior, um amálgama de gerações e versos que, a partir do rio Parnaíba, apresentam tons e pontos de vista distintos. Todos os autores (alguns de saudosa memória) e poemas constantes na edição de 1980 permanecem na atual, acrescida agora de diversas outras vozes que também ecoam e reverberam pelo itinerário deste rio.
Após os poemas, a edição original de O rio apresentava uma sessão de fotos, intitulada Imagens do rio, contando com trabalhos de Assaí Campelo, Nonato Carvalho, Jorge Riso e Aureliano Müller. Decidimos preservar tal feição imagética da obra trazendo uma seleção de fotos de Assaí Campelo feitas na época da primeira edição, apresentadas na contracapa, orelhas e ao longo deste livro. A foto da capa é de autoria de Paulo Barros.
E agora, ante suas águas, coroas, canoas e demais embarcações, seus peixes e demais viventes, fica o convite para navegar nas múltiplas correntezas deste rio.
Adriano Lobão Aragão
Estas flores de lascivo arabesco
TEU CORPO AO DORMIR MEU CORPO BUSCA
Adriano Lobão Aragão
teu corpo ao dormir meu corpo busca
em teu colo se debruça
minha face que teu cheiro aguça
minha face tua face
minha mão que tua mão segura
enquanto dorme
e segura minha mão a mão tua
teu corpo ao dormir me procura
e sobre minha perna tua perna perdura
e sobre tua perna a minha imita a mesma postura
e dura infinito neste sono a minha carne dura
encosta na minha a face tua
encosta em mim por todo sono
o seio o lábio a vulva
e deixa assim junto o sonho
de sempre habitá-la nua
e quando a mim à noite assim se debruça
mais que teu corpo meu sonho busca
Estas flores de lascivo arabesco
Poemas eróticos piauienses
Organização: Feliciano Bezerra e Wellington Soares
Teresina: Fundação Quixote, 2008
poemas: Dou-te meu cravo, Safo [pág 14] | A bailarina da Ásia [pág 15] | Assim sutil recompõe [pág 16] | Teu corpo ao dormir meu corpo busca [pág 17]
Babaçu lâmina
HÁ SANGUE NAS MÃOS
Adriano Lobão Aragão
há sangue nas mãos
que nem o esquecimento é capaz de lavar
há sangue na memória amputada dos olhos
que testemunharam dores e choques e horrores
nos dedos em riste apontando o anseio pela supressão da vida
há ainda este tempo que nada deixa amadurecer
no entanto há vida
nas mortes que vivem sem explicação
na inútil tentativa de assassinar esperanças
no grito surdo das bocas silenciadas
em todas as formas de amor que resistem à vitória do ódio
há ainda este tempo
Babaçu lâmina: 39 poemas
Organização: Carvalho Junior
São Paulo: Patuá, 2019
poema: Há sangue nas mãos [pág 17]
resenha | comprar
A vida é um ônibus
MIRÓ ATÉ
Adriano Lobão Aragão
Miró até agora
santo de rua
da Muribeca
de passos e praças
de versos desarma
as amarras do tempo
Miró até então
firme quando trôpego
lírico quando crítico
seu drible de menino
resiste na poesia
campo de eterna travessia
Miró até além
A vida é um ônibus: Miró da Muribeca
Organização: Wellington Soares e Thiago E
Teresina: Lamparina Editora, 2022
poema: Miró até [pág 10]