25 Pequenos estudos populares para violão

Gráfica Halley | Teresina, PI
maio de 2015

Emanuel Nunes e Adriano Lobão Aragão

Em 2015, desenvolvi o projeto gráfico do livro de partituras 25 pequenos estudos populares para violão, de Emanuel Nunes, exímio violonista e professor do Instituto Federal do Piauí. A foto registra o momento em que levamos os arquivos para a impressão na gráfica.

Tragédia Yanomâmi

Adriano Lobão Aragão

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321 cri
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570 crianças
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570 crianças mor
570 crianças mort
570 crianças morta
570 crianças mortas
21 pedidos de socorro
21 pedidos de socorro ig
21 pedidos de socorro igno
21 pedidos de socorro ignora
21 pedidos de socorro ignorados
Genocídio tem nome e sobrenome

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publicado originalmente na revista Bangüê

Entrevista | Os intrépidos andarilhos e outras margens

Entrevista concedida a Dílson Lages Monteiro, para o portal Entretextos, dezembro de 2012
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Autor de diversos livros de poemas, Adriano Lobão Aragão, piauiense e um dos editores da revista Desenredos, estreia na prosa de ficção com o romance Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens, publicado pela Nova Aliança Editora (2012). Entretextos foi ouvi-lo, a fim de descobrir o que move o novo projeto literário de Aragão.
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Dílson Lages | Adriano, o livro de início pode causar aos leitores mais desavisados algum estranhamento, porque, no meu entender, há o objetivo de romper as fronteiras entre prosa e poesia. É nítido um projeto de renovação estilística. Qual exatamente a proposta de Os intrépidos andarilhos e outras margens?
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Adriano Lobão Aragão | De início, houve apenas a necessidade de escrever um romance. A preocupação estilística foi surgindo ao longo desse processo. Fiz diversas versões e escolhi a que achei mais conveniente ao tema e ao propósito de escrever de um modo em que a construção estética fosse posta em evidência como parte intrínseca do enredo. De qualquer forma, espero ter dado alguns passos nesse sentido.
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Dílson | Por que você optou pelo título da obra no plural? O que isso semanticamente significa?
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Adriano | Pensei em diversos títulos. Nunca cheguei a um que me agradasse completamente. Mantive “Os intrépidos andarilhos” por ser o objeto de busca, pelo menos num plano inicial, do protagonista. “E outras margens” talvez fosse mais apropriado para um livro de contos, mas optei por manter pois remete às diversas possibilidades de leitura e vivências do personagem. O plural talvez seja uma fuga da individualização do protagonista, talvez. Como saber? Com certeza, Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens não é um livro de certezas.

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Dílson | Por quais caminhos e margens andam os andarilhos de sua obra?
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Adriano | Intertextualidade, metafísica, pretensão, equívoco, agonia… qualquer palavra que dê margem ao caminho.
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Dílson | Do ponto de vista formal, como você define Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens? Aproveito para pedir que você comente o que há de novo e o que há de tradicional em seu estilo.
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Adriano | Não sei bem o que há de novo. Na literatura, e na arte em geral, tudo que se faz sempre remete ao que já foi feito. Não vejo como almejar algo essencialmente “novo”. E de tradicional, creio que o livro é em si uma narrativa como qualquer outra, apenas com um esforço estilístico e metalinguístico mais intenso que o convencional.
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Dílson | Pude perceber em Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens diálogo com Saramago, Guimarães Rosa e João Cabral. Você me dizia informalmente que a obra conversa com o barroco. O que influenciou o estilo de escritura deste livro?
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Adriano | Como o livro foi escrito e reescrito durante um longo período, mais de cinco anos, com diversas interrupções e retorno ao ponto de partida, diversas influências foram se sobrepondo. Talvez a linguagem um tanto hermética e rebuscada, em vários momentos, e uma preocupação metafísica eu tenha herdado de minha afeição pela linguagem barroca.
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Dílson | Diante da proposta da obra, você acredita que o leitor lerá o livro buscando mais uma trama ou se concentrará no psicológico do narrador personagem?
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Adriano | Espero que existam leitores para as duas coisas. Que uns mergulhem na trama, outros degustem a linguagem, alguns se preocupem com as intertextualidades, enfim. Para mim, o ideal é que o livro encontre leitores por motivos distintos. De preferência, os mais distintos possíveis. 
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Dílson | O que de vivência de mundo no sentido mais restrito, de uma maneira geral, converteu-se no enredo deste livro?
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Adriano | Muito do que vivemos, sentimos, imaginamos e observamos vai parar nas páginas dos livros, mas essa transposição não é fundamental para leitura nem para a análise da obra. Às vezes, até o para o próprio escritor, é difícil entender ou apontar essas correlações.
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Dílson | O que mais exerceu influência sobre você na construção desta obra?
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Adriano | Demorei muito tempo escrevendo, então as influências foram diversas, em momentos distintos. É difícil para mim indicar a que mais se destacou.
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Dílson | Muitos leitores leem obras literárias buscando uma estória. Quando se deparam com o livro que dialoga com a filosofia e com dimensão metalinguística – como é o seu – veem-se forçados a ler diferente ou a leitura da obra literária, incluindo aqui Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens, é exatamente a mesma?
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Adriano | Também tenho essa dúvida.
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Dílson | Você mergulha em valores e tipos humanos comuns a pequenas comunidades e, nesse sentido, fundem-se o regional e o universal. O que você tem a dizer sobre esses valores e esses tipos humanos?
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Adriano | Creio que foram essenciais para a construção da obra. Não vi motivos para isolar um elemento em relação a outro. “Universal” e “regional” são conceitos que me pareceram muito estranhos durante a feitura do livro, por isso abandonei qualquer preocupação nesse sentido.
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Dílson | Adriano, para você o escritor escreve aquilo que gostaria de ler?
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Adriano | Acho que chega a acontecer isso sim, mas na maioria das vezes me parece uma espécie de diálogo com que já foi lido ao longo da vida. Uma forma de tentar, ainda que pretensamente, participar de um diálogo mais amplo que envolve séculos de produção literária e artística. O mais provável é que seja mera pretensão mesmo, mas talvez seja isso o que move diversos escritores. 
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Dílson | Como você espera que os leitores se debrucem sobre Os Intrépidos Andarilhos e Outras Margens?
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Adriano | Espero que terminem a leitura com a cabeça repleta de dúvidas e com um forte desejo de repetir a leitura mais algumas vezes.
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[Publicado originalmente
no portal Entretextos
em 17 de dezembro de 2012]


“Minha perspectiva é aquela do Romantismo, que absorve o gnosticismo – é não retornar ao passado, mas criar o futuro.” Claudio Willer

Entrevista com Claudio Willer
concedida a Adriano Lobão Aragão
em março de 2011
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Poeta, ensaísta e tradutor, Claudio Willer nasceu em São Paulo, 1940. Sua obra apresenta forte vínculo com a criação literária desenvolvida pelo surrealismo e pela geração beat. Tradutor de Lautréamont e Ginsberg, dentre outros. Como crítico e ensaísta, colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Isto É, Leia, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Cult, Correio Braziliense, etc; e na imprensa alternativa: Versus, Singular e Plural e outros. Co-editor da revista eletrônica Agulha, também edita o blog http://claudiowiller.wordpress.com/. Doutor em Letras pela USP, com tese defendida em 2008 com o título “Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e Poesia Moderna”, lançada em livro pela editora Civilização Brasileira. A seguir, apresentamos significativo trecho de entrevista concedida pelo autor sobre o místico labirinto poético ao qual dedicou sua tese. A entrevista completa foi publicada na 9ª edição da revista eletrônica Desenredos (www.desenredos.com.br).

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Adriano Lobão Aragão – O capítulo 1 de seu livro Um Obscuro Encanto tem como título “Gnosticismo: a ‘religião da literatura’?”. Como se desenvolveu o seu interesse por esses dois aspectos, a tradição esotérica e a tradição literária?
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Claudio Willer – Acho que, quanto à  ‘tradição literária’, interesse vem desde sempre. Com uns 20 anos de idade, despertou-se em mim uma vocação de poeta – certamente induzida por leituras e por amizades com outros poetas. Afinidade com surrealismo e simpatia pela geração beat vêm daquele tempo. Quanto ao gnosticismo, essa religião ao contrário, invertendo os grandes monoteísmos patriarcais, há tempos me despertava a curiosidade. E já havia visto autores serem associados ao gnosticismo, por exemplo Artaud por Susan Sontag. Recentemente, achei uma resenha minha de 1987, na Isto É, sobre a coletânea de textos em prosa de Hilda Hilst, Com os meus olhos de cão.  Para minha surpresa (havia-me esquecido) desde então já associava Hilda Hilst ao gnosticismo.  Lautréamont, também, ao escrever sobre ele em 1997 (no prefácio da edição Iluminuras da minha tradução), dizia que ele representava Deus como demiurgo gnóstico em Os cantos de Maldoror.  Minha tese de doutorado, pretendia fazê-la sobre relação de poesia com ocultismo e esoterismo em geral. Quando percebi que o resultado seria de uma extensão inviável, concentrei-me em gnosticismo, que vale como capítulo inicial do esoterismo e ocultismo na tradição ocidental. Pelo resultado – a tese de doutorado e o livro – vejo que foi uma boa escolha.

Adriano – É notório o interesse por temas místicos, incluindo o gnosticismo, caracterizado pelo lançamento de diversos títulos a cada ano. Sabe-se também que bem poucos encaram esses temas com o devido rigor e lucidez que encontramos em Um Obscuro Encanto, por exemplo. Nesse contexto, como tem sido a recepção de seu livro?

Claudio – Não é livro talhado para ter a recepção bombástica de um Dan Brown, por exemplo – a propósito das utilizações mais oportunistas, digamos, do gnosticismo. Além disso, é obra algo pesada – com a primeira parte sobre gnosticismo e história das religiões, a segunda sobre poesia. Pede leitores especiais, exige algo do leitor. Por isso, recepção tem sido lenta – marcada por elogios, é claro – mas firme, constante. A exemplo de outros livros meus que continuam circulando e tendo reedições, permanecerá. Observaria que pode ter frustrado duas correntes ideologicamente orientadas. Uma, a  dos tradicionalistas ou integristas, que execram gnosticismo, por razões óbvias. Outra, as correntes progressistas, que argumentam ser o gnosticismo um cristianismo primitivo – assim atribuindo anterioridade a esse cristianismo mais progressista, legitimando-o. Em termos mais claros: Um Obscuro Encanto não deve satisfazer nem à Opus Dei, nem à Teologia da Libertação…

Adriano – E a quem Um Obscuro Encanto deve satisfazer (ou melhor, encantar)?

Claudio – Ah, essa misteriosa questão, de quem são ou serão os leitores… Se alcançar os leitores de outros dos meus livros – milhares, vários milhares de Geração Beat e das traduções de Ginsberg e Lautréamont, por enquanto meus livros de maior circulação – já estará de bom tamanho. E mais leitores com o mesmo perfil – um perfil bem diversificado. Felizmente, inquietação, sensibilidade poética e vontade de saber mais alastram-se.
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[Publicado originalmente no jornal Diário do Povo, coluna Toda Palavra, Teresina, 12 de abril de 2011]
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Claudio Willer faleceu em janeiro de 2023.

Lançamento da coletânea O RIO

Oficina da Palavra | Teresina, PI
1º de dezembro de 2022

Chakal, Adriano Lobão Aragão, Chico Castro, Cineas Santos e Kilito Trindade

Peça teatral Esperando Godot, em montagem do Grupo Harém

Adriano Lobão Aragão, Francisco Gomes e Kilito Trindade

Adriano Lobão Aragão e Sergia Alves

Gramática reflexiva

COCAL DOS ALVES
Adriano Lobão Aragão

nos campos onde pastam
bois e cabras persiste
o caminhar do tempo
ruminando o desdobrar
da existência

diante dos bancos alinhados
na praça da igreja
a sombra das árvores
abriga a permanência dos dias
a mansidão da tarde
espalhada pelo horizonte
desenhado entre serras
em que campeiam lembranças
semeadas na resistência das pedras

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Gramática Reflexiva | sexto ano
William Roberto Cereja e Carolina Dias Vianna
5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2019
poema: Cocal dos Alves, p.218