Entrevista | Goella

Entrevista concedida a Chagas Botelho, para o blog Goella, março de 2010

Hoje, 14 de março de 2010, Dia da Poesia, o Papo do Goella faz uma entrevista com o poeta piauiense Adriano Lobão Aragão

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Goella | Você diz que sua obra está em constante mutação. Para o poeta, é importante a busca de um novo foco para um novo trabalho?

Adriano Lobão Aragão| O trabalho com a criação artística, para ser relevante, costuma lidar com a ousadia de se reinventar constantemente.

Goella | Influências, intertextualidade e releitura são palavras marcantes em sua obra. Um bom poeta é antes de tudo um bom leitor?

Adriano | Creio que deveria ser. Não como imposição, afinal, na criação artística, ninguém é obrigado a nada. Mas creio que todo escritor sempre deve ler mais e escrever menos, buscando ser o principal crítico de si mesmo.

Goella | Fernando Pessoa diz que “o poeta é um fingidor”. Você concorda com esse pensamento?

Adriano | Toda criação artística lida com algum tipo de “fingimento”. Entretanto, se é fingimento ou confissão, quem se importa? O valor de um poema está acima disso, pois se encontra na linguagem. Como escreveu Drummond, “o que pensas e sentes, isso ainda não é poesia”.

Goella | Você não acha que hoje os jovens leem os poetas piauienses mais por cobranças nos vestibulares?

Adriano | Não só os poetas piauienses. Quase toda a poesia lida pelos jovens piauienses limita-se àquilo que o professor trabalha em sala de aula. O que é uma pena, o que é muito pouco para uma formação cultural relevante. Compreender um poema é compreender uma importante dimensão da própria expressividade da linguagem humana.

Goella | Pra você, os melhores poetas são brasileiros ou estrangeiros? Ou não se pode fazer esse tipo de comparação?

Adriano | Há bons poetas tanto no Brasil quanto no exterior. Entretanto, em relação aos poetas contemporâneos, a produção poética portuguesa requer uma maior atenção do leitor brasileiro.

Goella | Gostaria que você comentasse a literatura piauiense de hoje e como estão as produções feitas atualmente.

Adriano | Há alguns esforços bem positivos. Admiro a poesia de Sebastião Edson Macedo e Manoel Ricardo de Lima, os contos de Airton Sampaio e M. Moura Filho, os ensaios de Wanderson Lima, para citar alguns autores de publicação recente. Mas sempre há um longo caminho a seguir. Um grande incentivo para o desenvolvimento da literatura produzida no Piauí seria a existência de leitores mais exigentes, uma crítica literária mais atuante.

Goella | Gostaria que você fizesse um comentário acerca dos seus livros, “Uns Poemas”, “Entrega a própria Lança na Rude Batalha em que morra” e “Yone de Safo”. E também que comentasse as suas atividades de poeta, professor e editor da revista literária amálgama.

Adriano | “Uns Poemas” reúne o que escrevi entre 1997 e 1998, constituindo-se para mim o início de uma necessária busca pela maturação poética que ainda não sei se consegui. Como quase todas as obras de estreia, ali estão meus principais defeitos e a gênese do caminho que escolhi seguir. “Entrega a própria lança na rude batalha em que morra” acrescentou uma preocupação com uma simbologia a partir de uma perspectiva histórica e intertextual, bem como um trabalho formal mais apurado. Cada parte de “Yone de Safo” é uma espécie de fragmento de um livro distinto que preferi não desenvolver isoladamente. Daí temos uma primeira parte lírico-amorosa, um certo erotismo, e logo depois uma parte voltada para a metalinguagem com referências bíblicas. Há ainda uma seção com poemas voltados para o nordeste e outra pseudo-memorialista. Enfim, vejo “Yone de Safo” como um caleidoscópio de temas a formas. E é justamente esse caráter multifacetado que me agrada no livro. Tentar equilibrar concisão e dispersão é sempre um desafio interessante. Esse é meu trabalho como poeta. A revista Amálgama foi um esforço em aliar crítica e jornalismo literário. As dificuldades financeiras em manter a periodicidade da revista nos levou aos meios eletrônicos, no qual atualmente edito, juntamente com Wanderson Lima, a Desenredos (www.desenredos.com.br).

Goella | E pra encerrar, hoje, no dia da poesia, qual o livro que você indicaria para o leitor do Goella?

Adriano | A “Ilíada”, de Homero, se quisermos “começar pelo começo”. Leitura indispensável. Admiro bastante a tradução de Carlos Alberto Nunes. A “Nova Reunião”, de Carlos Drummond de Andrade. 23 livro da poesia desse mestre reeditados recentemente em 3 volumes a um preço incrivelmente acessível. “O Tempo Consequente”, de H. Dobal; “O Arado”, de Zila Mamede, enfim, minha lista de leituras fundamentais seria enorme. Não conseguiria indicar um livro apenas.

Fonte | http://goellanet.blogspot.com/2010/03/papo-do-goella.html

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