Antologia selvagem. Um bestiário da poesia brasileira contemporânea. Coletânea de poemas organizada por Alexandre Bonafim, Claudio Daniel e Fábio Júlio [Franca, SP: Cavalo Azul, 2025].
A antologia reúne poetas de diversas regiões do país e propõe uma leitura sensível do animal como força imaginativa, signo crítico e campo de afetos. Cada texto convoca uma relação singular entre corpo, linguagem e mundo, fazendo da animalidade um espaço de inquietação e beleza. O livro se torna, assim, território de múltiplas vozes, aberto a experimentações poéticas que partem da natureza, da memória e da vida urbana para reinventar a presença do animal na literatura brasileira atual.
Participaram do livro, dentre muitos outros poetas, Ademir Assunção, Adriana Lisboa , Adriano Espínola, Adriano Lobão Aragão, Alexei Bueno, André Dick, Antonio Carlos Secchin, Beth Brait Alvim, Clarisse Lyra, Claudia Roquette-Pinto, Dora Ferreira da Silva, Elson Fróes, Leila Guenther, Marco Lucchesi, Marcos Siscar, Maria Carpi, Mariana Ianelli, Micheliny Verunschk.
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A UMA ABELHA QUE SE PRENDEU NO ÂMBAR
[Adriano Lobão Aragão]
em beleza, delícia e decoro
pela tarde divaga a breve abelha
desejando a eternidade envolvê-la
quando na seiva arriscasse seu pouso
mas que outra forma no âmbar deixaria
a delicada essência de teu voo
muito além dos limites desse corpo
no pouso impresso na matéria fria
quem sabe o tempo ou o corpo somente
revestido na resina do instante
quem sabe o voo colhido nesse ventre
quando nenhum outro engenho enfim alcance
sem que a morte para este fim se invente
ao colher a beleza que lhe encante
