NÃO DEIXAMOS NOSSAS PEGADAS
Adriano Lobão Aragão
não deixamos nossas pegadas
no calçamento desta rua
repleta de pedras pontiagudas
deixamos o sangue de nossos pés
cortados no jogo de bola
onde o único ofício das chinelas
era servir de trave para o gol
contado em pés descalços
então a rua deixava em nós suas pegadas
demarcadas pela tintura do mercúrio-cromo
ou pela dor do mertiolate e da água oxigenada
também a bola recebia seus remendos
quando furada cortada ou rasgada
e outra bola mais antiga cedia um recorte
que seria colado com faca quente
não deixamos nossas pegadas
no calçamento desta rua
deixamos o sangue e outras feridas ao relento
esperando o tempo decidir esquecer ou emendar
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Revista Brasileira
Fase VIII, Ano VI, Nº 91
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2017.
Editor: Marco Lucchesi | ISSN 0103707-2
| poemas: Peito de Moça, p.232; Inhuma, p.232; Quixadá, p.233; Uruçuí, p.233; Cocal, p.233; Fortim, p.234; Ainda havia carambolos nos muros, p.235; O muro além do jardim demarcava, p.236; Não deixamos nossas pegadas, p.237; Assar castanha, p.238. | Download da edição completa